João

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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Rodelas ainda na Berlinda... (artigo)









O título RODELAS NA BERLINDA foi publicado no Recanto das Letras em 07 de outubro. Vejo hoje, 08 de novembro, 25 leituras e nenhum comentário, nenhuma referência de bem, de mal. Das pessoas a quem enviei só uma deu um retorno. Sinal de que não se lhe deu atenção. Salvo essa pessoa amiga que me retornou. Soube que um blog de Paulo Afonso o transcreveu. Ainda bem. Escreva quem quiser, leia quem se agrada do texto ou se interessa pela matéria, e estamos conversados. Este será o meu último texto sobre a matéria e só para umas pequenas lembranças.

O projeto de lei que criou os municípios de Rodelas e Macururé foi assinado e apresentado por três vereadores de Rodelas e de certo (não estou informado) pelos representantes de Macururé que não faltariam com o seu apoio.

Dos representantes de Rodelas, Antônio Justiniano da Fonseca e Manuel Moura eram bem escolarizados e tinham competência para redigir um bom texto. Faltava-lhes, porém, a formação e o saber jurídico para formular o projeto na forma em que se fez. As pessoas esquecem cedo as coisas que não lhe interessam. Por outro lado contam-se também os que não viveram com atenção o momento e por isto o ignoram. A vida é assim mesmo. Todos nós corremos para alcançar nosso objetivo sem nem perceber os fatos alheios a este. O projeto passou por uma pena que o elaborou sem assinar porque não se comportava a sua assinatura. Era uma pena de amor. Importava sim, à mão abençoada que a empunhou que ele se fizesse em lei sem necessitar de eventuais emendas da Assembléia Legislativa, salvo palavras de praxe. Esta pena seria a do Dr. Adauto Pereira, nosso amigo e então líder prestigioso entre Paulo Afonso, Glória, Rodelas e Macururé. Exercia uma liderança tradicional ao lado de seu pai, Dionísio Pereira. Conhecia o então município de Gloria e seus distritos sabendo onde se assentavam as divisas distritais. E foi com base nestas, que ao lado dos senhores vereadores definiu, por justiça, a divisa dos novos municípios. Eram como se fossem todos seus. Nossa terra, para mim, ainda é a mesma: Glória, Paulo Afonso, Rodelas, Macururé, Chorrochó, Abaré. Nesse espaço corre em nós o sangue comum dos desbravadores do chão pobre, crespo e seco salvo a margem do Velho Chico. Os catingais de hoje quase pelados de arborização, foi o chão que alimentou as primeiras boiadas daquele gado miudinho (pé duro, se dizia) trazidas das Ilhas de Canárias e Madeira, considerado então o mais adaptável à caatinga de escassas chuvas, o mais resistente ao solo árido, assim considerado ontem - hoje quase hostil.

Adauto Pereira era a nossa esperança de um futuro brilhante que a morte roubou-nos na manhã da mocidade. Ele, Manuel Moura e eu fomos destacados pelo governo do estado para compormos uma comissão que oferecesse subsídios à CHESF para a alocação dos atingidos pela Barragem de Moxotó. Reunimo-nos os três, conversamos longamente, pesquisamos áreas a serem utilizadas, imaginamos outras soluções. O Moura trabalhava então em Salvador, eu corria como um doido para atender os problemas e penúrias de Rodelas em uma fase em que a seca nos castigava com ganas de morte. Deixamos ao Adauto a incumbência de por no papel quanto supomos de sugestão. Lemos com ele o escrito e o assinamos. Se a CHESF aproveitou alguma coisa eu nem sei. O Adauto acompanhou a matéria e confesso, não sei o que a empresa acolheu das sugestões ou se acolheu alguma. Era um governo de força e quem chiasse entraria para as grades. Adauto passou nestas uns dias e injustamente, por conta dessa luta.
A liderança de Glória hoje é a mesma que vem de Dionísio e Adauto. Não sei se os líderes tomaram conhecimento destes fatos. Eram então, gente muito moça para labutar política e são gentes que nasceram depois. As convicções são outras, outros os entendimentos, outra ainda a política. Afastado da política desde então, talvez eu seja o único vivente desses velhos tempos, quando nada o mais idoso. As divisas que estão aí separando os municípios de Rodelas, Glória e Macururé são as mesmas efetuadas em um passado longínquo para demarcar os distritos.

Uma palavra humilde aos prefeitos de Glória e Macururé: não rompam com um passado histórico que conta 350 anos. Façam que o prefeito de Rodelas saiba que existem as duas fazendas, cujos proprietários certamente não o procuraram, e este assumirá o ônus das mesmas, ainda que o proveito fique para o município vizinho. Maior que seja a Glória de hoje pela ampliação de seu espaço territorial, não compensará o desgaste que sofrerão quando alguém amanhã contar a história de hoje. Nosso nome valerá no futuro pelo que fazemos em vida. Quando escrever-se a história ficará o registro do nome de dois prefeitos que romperam com um passado de três séculos e meio para ampliar o solo e as rendas dos seus municípios, como poderá aparecer o nome de um pobre velho de noventa e três anos que contesta a ação por injuriosa à glória do passado. Então nós seremos pó.

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