Apoiado em divulgação recente do Ozildo
Alves blog, escrevi e publiquei recentemente o artigo RODELAS NA BERLINDA. O trabalho adverte sobre uma pretendida revisão
na divisão entre os municípios de Gloria e Rodelas com vistas à recuperação de
terras do grupo indígena Pankararés de Gloria. A divisão hoje contestada, com
esta a lei são do ano de 1962 - cinquenta e um anos no passado.
Estudioso da matéria que me
rendeu o livro RODELAS, CURRALEIROS, ÍNDIOS E MISSIONARIOS, editado em 1996,
tomamos aqui e agora, a iniciativa de advertir sobre o equívoco da pretendida
revisão que fala expressamente de prejuízo em terras dos índios Pankararés.
Ora, na crônica da era da colonização dos aventureiros portugueses não há um só
registro de índios dos nomes: Nação Tuxá de Rodelas ou grupo indígenas
Pankararés de Gloria. Como aldeias vizinhas, existiam então as denominadas
Corumbabá, no local onde hoje é a Nação Tuxá, a Sorobabé no atual município de
Rodelas e a Aldeia de Caruru em Glória, que imagino ser a agora denominada
PANKARARÉ. Em razão da cobiça e do furto dos aventureiros dos Ávilas, os índios
Carurus foram expulsos de seu chão. Os missionários da época eram os jesuítas. Agregaram
a aldeia de Caruru à de Sorobabé.
O rei interveio e mandou
distribuir terras à margem do rio, no lado baiano, aos nativos. Falemos das
nossas, que estão entre Rodelas e Glória. Mandava demarcar uma légua de terra
para a aldeia de Rodelas, já assim chamada a antiga Corumbabá, uma légua de
terra para a aldeia de Sorobabé - A aldeia de Caruru não fora contemplada. Daí a
iniciativa dos missionários: agregar para beneficiar. Aconteceu que o mandado
do rei não foi cumprido e a distribuição da terra ficou em ser - o índio sempre
no pau ficou a ver navios. Os de Rodelas, os do Sorobabé, os de Caruru. Daí que
os índios Carurus retornam a se acomodar como Deus quis, no Curral dos Bois ou
se dispersaram.
Vejo neste momento que a
pretendida revisão não tem em vista oferecer terras aos índios Pankararés, que
já se encontram reassentados. A pretensão parece-me, é outra: ampliar a área de
Gloria em detrimento de Rodelas. Esta lembrança me recorda as palavras de Pedro
Calmon em a A CASA DA TORRE, referindo-se ao padre Pereira, grande matador de
índios: “A fronteira dos seus domínios estava na pata do seu cavalo”.
Vejo só agora que os Pankararés já
estão assentados em terra própria.
Leia-se o texto a seguir, editado
na Wikipédia:
“Wikinativa/Pancararé
Da
Wikiversidade
Responsável:
Caio Vinicius Marques Teixeira
Os
Pancararés (ou Pankararés), são um grupo indígena que habita o Norte da Estação
Ecológica do Raso da Catarina, nos limites dos municípios brasileiros de Nova
Glória e Glória, ambos no estado da Bahia, mais precisamente nas Áreas
Indígenas Brejo do Burgo e Pankararé.
Localização
A comunidade Pancararé tem como origem a região de Curral dos Bois, no
municipio de Glória, a chamada Glória Velha. Atualmente, se localizam no
município de Glória/BA, fazendo limite com a cidade de Paulo Afonso/BA. O
território Indígena tem aproximadamente 49 mil hectares de área, sendo dividido
na parte do Brejo e a Reserva. Toda a área indígena já está homologada pela
União. A comunidade Pancararé é composta pelas aldeias de Brejo, Chico,
Serrota, Ponta d'Água, Poço, Caraíba e Cerquinha. Esta última aldeia é uma
comunidade indígena, mas não está dentro da demarcação, devido a acordos
governamentais.
História
Há poucos relatos e documentos sobre a origem ou histórias de períodos
muito antigos dos índios Pancararé (Pankararé). Isso é uma consequência da
escassez de registros sobre índios na região do São Francisco do século XVI ao
XIX. Os registros falam que quase toda a região do Vale do São Francisco era
ocupada por índios Cariri, mas esta denominação é aplicada a tantas tribos que
quase nada significa.
Os primeiros registros sobre a origem dos Pancararés datam de 1705, quando portugueses chefiados pela família D'Ávila criam um ponto de apoio para a expansão agro-pastoril, após o estabelecimento de uma missão religiosa. Muitos dos índios foram reduzidos pelas juntas e vieram a se estabelecer no aldeamento chamado Curral dos Bois, até então nas listagens de grupos indígenas do São Francisco, nunca foram mencionadas a denominação Pankararé, apenas “índios de curral dos bois”.
No século XIX, mediante a decisão Imperial de incorporar terras indígenas de grupos que já não viviam aldeados, mas ligeiramente misturados a civilização, muitas das tribos indígenas foram consideradas extintas sob vergonhosa exploração e tomada de suas terras. Nessa época, já com os aldeamentos em decadência, os índios do Curral dos Bois se espalharam pelos seus arredores, buscando áreas de refugio como brejos ou altos de serra próximas, como os Pankararé do Brejo do Burgo. Outros, seguiram em direção a Tacaratu, onde foram aldeados por padres oratorianos, este povoado, posteriormente chamado de Brejo dos Padres, concentrou uma população indígena denominada Pankararu. A frequente referencia aos Pankararus reforça o parentesco apontado pela história oral dos Pankararé.
Em 1910, é criado o Serviço de Proteção aos Índios. Em 1952, os Pankararé são referidos como “um grupozinho de sobreviventes índios que não estão sob jurisdição do S.P.I.”, com população estimada de 225 indivíduos. Superficialmente seriam indistintos das povoações brasileiras presentes no local, a não ser por praticas culturais como o Toré eu Praiá..
Durante todo esse tempo, esquecidos e renegados pela sociedade nacional, os Pankararé tiveram suas terras tomadas pelos posseiros da região, gerando grandes conflitos. Nessa época, muitos Pankararé tornaram-se vaqueiros, meeiros e trabalhos, como alternativa para a complementação de sua renda familiar.
Na década de 50, toda região foi abalada pela implantação do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. A presença de uma grande empresa estatal, como a CHESF, em Paulo Afonso, provocou o surgimento de um centro urbano de grandes proporções, produzindo boas alterações no quadro socioeconômico e demográfico da região. A partir da grande seca de 1955, iniciam-se as migrações para São Paulo, onde muitos Pankararé, geralmente do sexo masculino empregam-se na construção civil. Ainda nessa época, os posseiros avançam suas perseguições, ao sentirem-se ameaçados pela noticia da expulsão de posseiros da área indígena Pankararu (em Brejo dos Padres), os não-índios sentem-se ameaçados pelo poder potencial que representariam os Pankararé.
O contato com os Pankararu, que ocorria apenas de modo esporádico, intensifica-se com os conflitos por posse de terra. Através da influência do contato com os Pankararu, são remotadas as práticas rituais tradicionais, ao mesmo tempo que se retoma uma nova organização politica: a figura do cacique. Após décadas de conflitos e reivindicação pelo reconhecimento oficial da FUNAI e a demarcação de terras indígenas, os Pankararé recebem o reconhecimento apenas em 1982 e a reserva indígena é criada bem mais tarde em 1992, passando por processos de homologação até hoje.
Os primeiros registros sobre a origem dos Pancararés datam de 1705, quando portugueses chefiados pela família D'Ávila criam um ponto de apoio para a expansão agro-pastoril, após o estabelecimento de uma missão religiosa. Muitos dos índios foram reduzidos pelas juntas e vieram a se estabelecer no aldeamento chamado Curral dos Bois, até então nas listagens de grupos indígenas do São Francisco, nunca foram mencionadas a denominação Pankararé, apenas “índios de curral dos bois”.
No século XIX, mediante a decisão Imperial de incorporar terras indígenas de grupos que já não viviam aldeados, mas ligeiramente misturados a civilização, muitas das tribos indígenas foram consideradas extintas sob vergonhosa exploração e tomada de suas terras. Nessa época, já com os aldeamentos em decadência, os índios do Curral dos Bois se espalharam pelos seus arredores, buscando áreas de refugio como brejos ou altos de serra próximas, como os Pankararé do Brejo do Burgo. Outros, seguiram em direção a Tacaratu, onde foram aldeados por padres oratorianos, este povoado, posteriormente chamado de Brejo dos Padres, concentrou uma população indígena denominada Pankararu. A frequente referencia aos Pankararus reforça o parentesco apontado pela história oral dos Pankararé.
Em 1910, é criado o Serviço de Proteção aos Índios. Em 1952, os Pankararé são referidos como “um grupozinho de sobreviventes índios que não estão sob jurisdição do S.P.I.”, com população estimada de 225 indivíduos. Superficialmente seriam indistintos das povoações brasileiras presentes no local, a não ser por praticas culturais como o Toré eu Praiá..
Durante todo esse tempo, esquecidos e renegados pela sociedade nacional, os Pankararé tiveram suas terras tomadas pelos posseiros da região, gerando grandes conflitos. Nessa época, muitos Pankararé tornaram-se vaqueiros, meeiros e trabalhos, como alternativa para a complementação de sua renda familiar.
Na década de 50, toda região foi abalada pela implantação do canteiro de obras da usina hidrelétrica de Paulo Afonso. A presença de uma grande empresa estatal, como a CHESF, em Paulo Afonso, provocou o surgimento de um centro urbano de grandes proporções, produzindo boas alterações no quadro socioeconômico e demográfico da região. A partir da grande seca de 1955, iniciam-se as migrações para São Paulo, onde muitos Pankararé, geralmente do sexo masculino empregam-se na construção civil. Ainda nessa época, os posseiros avançam suas perseguições, ao sentirem-se ameaçados pela noticia da expulsão de posseiros da área indígena Pankararu (em Brejo dos Padres), os não-índios sentem-se ameaçados pelo poder potencial que representariam os Pankararé.
O contato com os Pankararu, que ocorria apenas de modo esporádico, intensifica-se com os conflitos por posse de terra. Através da influência do contato com os Pankararu, são remotadas as práticas rituais tradicionais, ao mesmo tempo que se retoma uma nova organização politica: a figura do cacique. Após décadas de conflitos e reivindicação pelo reconhecimento oficial da FUNAI e a demarcação de terras indígenas, os Pankararé recebem o reconhecimento apenas em 1982 e a reserva indígena é criada bem mais tarde em 1992, passando por processos de homologação até hoje.
Língua
O idioma
predominante na tribo dos Pancararé é o Português, em função da imposição da
língua no período colonial. Apenas alguns antigos conservam pequenos resquícios
do idioma materno.
Aspectos
Culturais
Poucos
costumes originais da tribo Pancararé se mantiveram com o decorrer do tempo, os
poucos costumes presentes são decorrentes do contato recente com os Pankararus,
que permitiu resgatar costumes tradicionais como o Toré, um ritual em que há
uma comunicação espiritual dos indígenas com seus ancestrais e o Praiá, outro
ritual muito predominante entre tribos da região Nordeste.
Medicina tradicional
Em 2006, Miguel Colaço realizou um estudo sobre o a importância cultural
de plantas para os índios Pankararé do Brejo do Burgo. Nesse estudo os
indígenas destacaram o uso medicinal de algumas espéces de plantas: mastruz
(Chenopodium ambrosioides L.), pau-de-teiú (Não identificado), quixabeira
(Bumelia sartorum Mart.), ameixa (Ximenia americana L.), aroeira (Myracroduon
urundeuva), maria-mole (Guapira sp.) e pau-chumbo (Balfourodendron molle).
Situação territorial
O território do Brejo do Burgo encontra-se atualmente em fase de
homologação, mas foi oficialmente declarada em 1992. Possui uma área de 17.924
ha localizada nos limites da reserva ambiental do Raso da Catarina entre os
municípios de Paulo Afonso e Nova Glória na Bahia”.
Tomo conhecimento há pouco de que o projeto de nova
divisão territorial Glória, Rodelas, Macururé gera-se em um órgão do governo
que projeta dividir o caatingal dos três. Arranca metade das caatingas de
Rodelas, parte para Macururé, parte para Glória. Vi rapidamente o mapa
projetado. São os projetos dos técnicos de gabinete que nunca saíram de sua
sala e se sugestionam com a informação de meia dúzia de interesseiros e ou
amigos que talvez busquem na divisão um interesse pessoal. Isso seria matéria,
imagino, para um blebiscito. Porque eventualmente um sítio depende do apoio de
um carro-pipa de Macururé ou de Glória que fica mais próximo do que a sede do
seu município? Isso todos nós fizemos em todos os tempos e chama-se prestação
de serviço público. Ainda hoje os municípios de Chorrochó, Macurururé, Abaré e
Rodelas dependem em matéria de ensino superior, de Pernambuco que lhes fica
mais próximo de que, por exemplo, Paulo Afonso, considerada a desgraça que são
nossas estradinhas de barro. Até há pouco tempo dependiam de Pernambuco para
ensino ginasial e segundo grau. Nunca fomos rejeitados. Têm razão os municípios
do alto São Francisco que pretendem emancipar-se da Bahia, porque a capital
está muito longe. Melhor que eles pensem nisso. Porque foram técnicos dessa categoria
que esfacelaram a população de Glória e Rodelas com as barragens de Moxotó e
Itaparica.
Eu era prefeito de Rodelas quando se projetava a
barragem de Moxotó. Somamo-nos eu, Manoel Moura, meu antecessor na
municipalidade de Rodelas, e Adauto Pereira um grande moço que liderava Glória e
Paulo Afonso, o qual a morte levou tão cedo, e fizemos uma pequena barulheira.
Conseguimos que o governo interferisse junto a CHESF para criar uma comissão de
homens que conhecessem a região e tivessem informações objetivas a oferecer no
sentido de que se recolocasse a população a ser atingida pela barragem na
região utilizando as áreas da beira lago e proximidades. Fomos nós três que
compusemos a comissão. A CHESF praticamente não atendeu a um item da sugestão.
Veio a Barragem de Itaparica. Eu já afastado das
posições escrevi três cartas ao presidente da CHESF. Em um desta lembrei que
fizesse os técnicos saírem da beira-rio e encontrariam espaço para lotar todos
os prejudicados com a barragem. Cheguei a oferecer-me para ir pessoalmente com
estes e mostrar-lhes as áreas - não era um desocupado nem irresponsável, exercia
o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal, o qual só se alcançava como ainda
hoje o é, mediante concurso público de alto nível - não tive um retorno.
Publiquei as missivas em anexos no livro NO
CORRER DO TEMPO – MEMÓRIAS. E lá se foi parte de Rodelas
para longas distâncias como Ibotirama, por exemplo,
onde alocaram parte dos nossos índios Tuxás.
E que mais dizer, senhores, e que mais dizer?
Lembrar aos técnicos que ao invés de pesquisar a Caatinga via fotografias
aéreas, sugerissem ao governo, federal e estadual, que pusessem suas máquinas a
perfurar o solo desses caatingais mapeados, a trazer a água que está no subsolo,
mais raso, mais fundo. Iríamos fazer o deserto do Raso da Catarina em Oasis que
supra as cidades de alimento. O chão é o chão, senhores, de onde nascemos,
aonde vivemos e para onde iremos ao final da vida corporal. Amai o chão
beneficiai o chão e dele nos sirvamos, antes de pensar em rateá-lo em pedacinhos
para gozo e bem de alguns ou só para mostrar que os técnicos trabalham. A
Assembléia Legislativa aprova leis, o governo as sanciona.
João
Justiniano da Fonseca
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