Aqui você conhecerá toda a minha obra já publicada e
ler alguma coisa sobre cada um deles:
Safiras e
Outros Poemas - Poesia
Edição - Falângola Belém –PA - 1960
Primeira publicação de João Justiniano da Fonseca em livro. Safiras e Outros Poemas foi editado em 1960, pela
editora Falangola, em Belém, Pará, onde o autor residia então.
Alguns poemas do livro:
IMPOSSÍVEL
leve, impossível como a nuvem passa. A luz do teu olhar era a ditosa, vaga esperança que o tormento embaça. Rias, cantavas, rias desdenhosa, eu, lentamente, ia sorvendo a taça de uma ilusão, sutil e caprichosa, a rir contigo, em tudo em tudo achando graça. Nada no mundo além de nós havia. Doce e feliz a vida nos sorria. Té que paramos. Onde? Qual o porto? Nem vimos o impossível nos bradando... Despertamos chorando, apenas quando meu coração era o de um vivo morto.
IMPULSOS
ouve meu rogo, ouve meu canto langue. Deixa que eu tome a seiva dessa vida, mulher querida, em transfusão de sangue. Ó sê propícia minha doce amada, não negues nada ao teu poeta amante. Do amor sigamos esse impulso forte, inda que a morte envolva-nos num instante. O teu segredo de mulher supina, corpo de Vênus, alma de menina, amiga, fala ao meu ouvido, fala. E com o teu beijo, sensação divina, vem ser meu estro, o coração me embala! Dar-te-ei mil versos de topázio e opala... |
João Justiniano da
Fonseca
Brados do
Sertão
1ª edição - Imprensa Oficial da Bahia/autor - 1963 | 2ª edição - Edição do Autor - 1974
1ª edição - Imprensa Oficial da Bahia/autor - 1963 | 2ª edição - Edição do Autor - 1974
...É bem um brado de
revolta, a merecer ressonâncias na acústica administrativa, o livro de versos de Joao
Justiniano da Fonseca, flagrando as angústias das regioes nordestinas.
Se, de fato, a linguagem metrificada ou rítmica deve ser portadora de mensagens, o autor de BRADOS DO SERTAO, atingiu de cheio seu objetivo, revelando a seus coevos e as geraçoes despontantes as grandes justiças sociais que desajustam as populaçoes sertenejas, sobretudo o Nordeste.
Sem preocupaçao de escolas literárias, mas submisso a rítmos específicos a transmissao emocional da idéia. BRADOS DO SERTAO apresenta-nos um punhado de versos polimétricos, vividos e sentidos no ambiente agreste das regioes esquecidas pelos poderes constituídos.
Em suas páginas, nota-se a intençao romântica do autor, centralizada na pessoa de Flora, integrando uma família de retirantes, na esperança de encontrar em S. Paulo a Terra da Promissao.
Na realidade, porém, BRADOS DO SERTAO é mais um libelo, do que um poema romântico, tendendo mais para a epopéia do que para a poesia lírica.
Maneiras personalíssimas de sentir a natureza telúrica e de descrever as causas do exodo de sua gente.
A ordem a que se impôs, na realizaçao do pensamento, e uma constante de sua personalidade literária e como tal deve ser aceita.
A seu modo, emitiu uma grande mensagem de reivindicaçoes humanas, para sua terra e seu povo.
E ninguém lhe poderá negar esse merecimento.
Se, de fato, a linguagem metrificada ou rítmica deve ser portadora de mensagens, o autor de BRADOS DO SERTAO, atingiu de cheio seu objetivo, revelando a seus coevos e as geraçoes despontantes as grandes justiças sociais que desajustam as populaçoes sertenejas, sobretudo o Nordeste.
Sem preocupaçao de escolas literárias, mas submisso a rítmos específicos a transmissao emocional da idéia. BRADOS DO SERTAO apresenta-nos um punhado de versos polimétricos, vividos e sentidos no ambiente agreste das regioes esquecidas pelos poderes constituídos.
Em suas páginas, nota-se a intençao romântica do autor, centralizada na pessoa de Flora, integrando uma família de retirantes, na esperança de encontrar em S. Paulo a Terra da Promissao.
Na realidade, porém, BRADOS DO SERTAO é mais um libelo, do que um poema romântico, tendendo mais para a epopéia do que para a poesia lírica.
Maneiras personalíssimas de sentir a natureza telúrica e de descrever as causas do exodo de sua gente.
A ordem a que se impôs, na realizaçao do pensamento, e uma constante de sua personalidade literária e como tal deve ser aceita.
A seu modo, emitiu uma grande mensagem de reivindicaçoes humanas, para sua terra e seu povo.
E ninguém lhe poderá negar esse merecimento.
Flávio de Paula
Sonhos de João - Poesia
Edição do Autor - 1974
Edição do Autor - 1974
Eis de volta ao público o poeta João Justiniano da Fonseca, trazendo mais um de seus
brilhantes trabalhos que há de ser, sem dúvida, uma outra parcela de valor destinada a
aumentar e enriquecer o seu já notável agregado de sucessos.
"Sonhos de João", título que ele dá à reunião de versos com que brinda a
poética baiana, neste alvorecer de 1974, é bem uma comprovação de que João não é
mais um iniciante que precise de recomendações e de tolerância, seu nome foi
guindado à altura dos grandes poetas.
Neste livro, há sempre a alma do poeta, às vezes, a alma do leitor. Eu o dedico a você,
que gosta de ler poesia. Leve-o, leia ... E decore um poema para as horas do tédio, para
as horas de amor. - Para as horas de vida espiritual.
A. de Carvalho Melo
Luiz Rogério de Souza – Educador Emérito - Biografia e Poesia
Edição
Mensageiro da Fé/Comissão de Promoção da Barra – Bahia - 1976
O livrote Luiz Rogério de Souza - Educador emérito, nasceu com o sentido de homenagem da UBT (União Brasileira de Trovadores) de Salvador e da Comissão de Promoção da Barra, quando ele comemorava os seus setenta anos de vida e bons serviços prestados a comunidade baiana. Coube a mim, por escolha dos pares, redigir o texto. E o fiz com muita honra e amor.
Luiz Rogério, ao lado de ter sido um grande homem, que se destacou na profissão, como médico e mais como político e educador, era um extraordinário amigo. Sabia amar e respeitar as pessoas, distinguir os amigos com afeto e estima.
Constitui-se o livro, de uma biografia resumo e uma coroa de sonetilhos. O tempo foi muito curto para a pesquisa, que havia de ser feita sem que ele o soubesse. Informações rápidas de uma de suas irmãs, a Delamor.
Valeu como homenagem.
I PARTE - EDUCADOR EMÉRITO.
1 - Origem.
"Filho do doutor Augusto Celestino de Souza e D. Adelaide Bloxham de Souza, nasceu
Luiz Rogério de Souza em Salvador, a 8 de agosto de 1906..." "Casado com D.
Maria Amélia Galvão de Souza....". "Seu pai, Augusto Celestino de Souza,
diplomado pela Faculdade de Direito da Bahia, concluiu o curso jurídico em 1901...".
2 - O estudante.
"Vindo
de Esplanada em 1918, por morte do pai, trazia Luiz Rogério o curso ginasial iniciado.
Ali concluía o primário e ingressara no ginásio com os maristas. Em Salvador concluiu o
ginásio ainda nos Maristas (Colégio Nossa Senhora da Vitória). Entra para os
Preparatórios no Ginásio da Bahia em 1919, aos 13 anos, tirando nota 9, a mais alta da
classe, em português. Tão grande é a façanha para os seus 13 anos e ato querido é ele
entre os colegas, que estes, empolgados, festejam-lhe o brilho carregando-o nos braços.
Conclui o Preparatório em 1921. Em 1922, aos 16 anos, é aprovado no Vestibular da
Faculdade de Medicina da Bahia....".
3 - O Médico.
"Médico
em 1927, mal completados os 21 anos de idade, partia Luiz Rogério de Souza, logo a
seguir, para o exercício da profissão. Em janeiro de 1928 seria nomeado, em caráter
interino, Inspetor Sanitário em Salvador, e em abril designado para realizar medidas
profiláticas contra a peste bubônica em Salvador, Alagoinhas e Serrinha, indonessa
missão até setembro.....".
II - SEGUNDA PARTE - SINONÍMIAS
I
que o médico é quase um santo. Pelo clínico e ortopédico é a nossa fé e nosso espanto. Ele é sempre o enciclopédico que lê na agente, e El tanto, e com tal ciência de Védico, que nos cria medo e espanto. Mas, há outra ciência enorme, face a qual ainda é informe essa que ao médico ensina: É o Saber. Sua grandeza entre Deus e a natureza, vale mais que a medicina.
VII
quem contemplou tão somente. Quem, sendo um simples raposa, enricou explorando a gente. Há uma tristeza de lousa na vida de um displicente. naquele que só repousa, não planta e aduba a semente. Quem não abraça o vizinho, não dá pão ao pobrezinho nem ama a irmã criatura, não se avizinha de Deus, não cria, nos gestos seus, austeridade e ternura!
VIII
se somam em qualidade pela dureza da jade e o mel de abelha em doçura. Cantam paz na tessitura, unem respeito e lealdade, equilíbrio e austeridade... Chamam Deus na envergadura! Por ternura e austeridade, entendo um pai na bondade, entendo Deus no mistério. Entendo um riso de frade, que absolvendo a maldade, é igual a Luiz Rogério. |
João Justiniano da
Fonseca
Cacimba Seca - Romance
Edição Contemp Editora – 1985
Integrante de
uma Comissão de Seleção de Textos, li pela primeira vez o romance Cacimba Seca, de
João Justiniano da Fonseca, nessa condição.
Relido seu romance, com o possível distanciamento, mantém-se a impressão inicial: se não prescinde da substância social, ganha em emoção e poesia pela contensão da linguagem, como se verifica na abertura do livro: "o homem - o pai - lá embaixo na cacimba, puxando água, lata a lata. E a água no chora-chora, minando devagarzinho", fixando o homem diante da seca, sem que o desespero lhe sirva de moldura.
Sem pretender uma ficção histórica, mas antes acompanhar a trajetória do homem, João Justiniano, através de Domingos de Afonseca e Azevedo, levanta o desbravamento da caatinga e a fundação da Aldeia de Rodelas a que se incorporam os homens brancos a ocupar as terras em nome de El-Rei e os padres capuchinhos que foram catequisar os índios, lá construíram a Capela e o Cemitério.
Cacimba Seca, ao reafirmar o talento de seu autor, impõe-se como obra definitiva, de profunda densidade humana e literária.
Relido seu romance, com o possível distanciamento, mantém-se a impressão inicial: se não prescinde da substância social, ganha em emoção e poesia pela contensão da linguagem, como se verifica na abertura do livro: "o homem - o pai - lá embaixo na cacimba, puxando água, lata a lata. E a água no chora-chora, minando devagarzinho", fixando o homem diante da seca, sem que o desespero lhe sirva de moldura.
Sem pretender uma ficção histórica, mas antes acompanhar a trajetória do homem, João Justiniano, através de Domingos de Afonseca e Azevedo, levanta o desbravamento da caatinga e a fundação da Aldeia de Rodelas a que se incorporam os homens brancos a ocupar as terras em nome de El-Rei e os padres capuchinhos que foram catequisar os índios, lá construíram a Capela e o Cemitério.
Cacimba Seca, ao reafirmar o talento de seu autor, impõe-se como obra definitiva, de profunda densidade humana e literária.
Guido
Guerra
Terra Inundada - Romance
Edição Contemp Editora - 1986
Edição Contemp Editora - 1986
João Justiniano da Fonseca é um regionalista que não perde de vista o universal, seus
dramas sertanejos têm muito de tragédia grega. A força criativa já revelada em
!Cacimba Seca", seu primeiro Romance, confirma-se nessa "Terra Inundada"
que me prendeu da primeira página à última. A morte cavalga o vento na caatinga
condenada. Quem escapa de morrer de sede, nas secas prolongadas, é enxotado da terra
pelas águas das grandes barragens construídas para saciar a fome de energia do
desenvolvimento industrial. Antes do grande dilúvio promovido pela CHESF na região de
Sobradinho, Santo Antonio da Glória foi afogada para que Paulo Afonso deixasse de gritar
pelos engenheiros do Brasil, e a mãe de Cipriano das Flores Capivara fosse esconder sua
desonra em São Paulo, onde se empregou como doméstica no palacete de um próspero
jurista, onde seu filho cresceria e se faria homem, para um dia voltar ao rincão natal a
fim de resgatar o seu passado.
Há momentos verdadeiramente dostoiéviskianos nesse romance, que não é fruto da
improvisação, mas resulta de acurada observação da realidade serteneja. Com
"Terra Imundada" João Justiniano da Fonseca coloca-se entre os mais expressivos
nomes do regionalismo baiano.
Wilson Lins
Grilagem - Romance
Edição Editora Sol Nascente – 1991
Eu queria uma
trilogia da terra. E aqui está ela concluída. Primeiro "CACIMBA SECA" - herói
o vaqueiro. O vaqueiro, a caçimba, gado magro e a ração de macambira e mandacaru.
Dureza de vida, crueldade de sofrimento. Segundo TERRA INUNDADA - herói o lavrador de
beira rio no São Francisco. A CHESF construindo suas barragens, desalojando e abandonando
o explorado ribeirinho. Crueza da vida, desespero a dor de ver tudo seu perdido.
Agora GRILAGEM - herói o catingueiro tirador de mel e caçador de peba. Procura a abelha na caatinga de umburana em umburana. Caça o peba, o gato do mato, o veado, a asa-branca. Planta o seu roçado de quando chove, se chove. Cria meia dúzia de cabras e abelhas em dezenas de cortiços. Produz rústicos artefatos de madeira, couro e fibra de caroá. É auto-suficiente e produz até, para o consumo da casa, o sal da terra, a vela de cera e o sabão de decoada.
Vem o grileiro. Os seus homens chegam e medem as terras. Léguas e léguas de chão devoluto do estado são passadas nos aparelhos de agrimensura e é sua a terra. Quem possui e trabalha o seu pedaço de chão no espaço medido, não importa há quanto tempo aí viva e sofra, é posto para fora como invasor. Pois sim, invasor. E o pior, o danado, é que o grileiro, por artes essas e aquelas de prova fraudulenta garante que é sua a propriedade e, para desocupá-la dos "invasores" tem o mandado da Justiça e o apoio da Polícia. Vida cão, só o diabo agüenta. O diabo por que mata e morre sem pensar em respeito a ninguém.
Agora GRILAGEM - herói o catingueiro tirador de mel e caçador de peba. Procura a abelha na caatinga de umburana em umburana. Caça o peba, o gato do mato, o veado, a asa-branca. Planta o seu roçado de quando chove, se chove. Cria meia dúzia de cabras e abelhas em dezenas de cortiços. Produz rústicos artefatos de madeira, couro e fibra de caroá. É auto-suficiente e produz até, para o consumo da casa, o sal da terra, a vela de cera e o sabão de decoada.
Vem o grileiro. Os seus homens chegam e medem as terras. Léguas e léguas de chão devoluto do estado são passadas nos aparelhos de agrimensura e é sua a terra. Quem possui e trabalha o seu pedaço de chão no espaço medido, não importa há quanto tempo aí viva e sofra, é posto para fora como invasor. Pois sim, invasor. E o pior, o danado, é que o grileiro, por artes essas e aquelas de prova fraudulenta garante que é sua a propriedade e, para desocupá-la dos "invasores" tem o mandado da Justiça e o apoio da Polícia. Vida cão, só o diabo agüenta. O diabo por que mata e morre sem pensar em respeito a ninguém.
O Grileiro
O grileiro eu
conheço, é um criminoso impune, um gatuno de espécie a mais abjeta e ignara, que prova
em seu favor e em seu favor reúne a polícia que ajuda e a justiça que ampara.
Chega e contempla a terra, e o rio, o rancho, a igara sem que suspeite alguém que ele morda e gatune, olha a cultura, ao dono o titulo repara a que lhe obriga a lei - a que ninguém é imune.
Corre ao cartório, espia, arruma, retifica. Com o titulo na mão o registro pratica e eis que o direito é seu - é sua a propriedade.
Vai ao juiz, requer. A polícia a mandado de reintegrar na posse o cidadão esbulhado. E cai o Pano... A cena a lei e a sociedade...
Chega e contempla a terra, e o rio, o rancho, a igara sem que suspeite alguém que ele morda e gatune, olha a cultura, ao dono o titulo repara a que lhe obriga a lei - a que ninguém é imune.
Corre ao cartório, espia, arruma, retifica. Com o titulo na mão o registro pratica e eis que o direito é seu - é sua a propriedade.
Vai ao juiz, requer. A polícia a mandado de reintegrar na posse o cidadão esbulhado. E cai o Pano... A cena a lei e a sociedade...
Joao Justiniano da Fonseca
Sonetos de
Amor e Passatempo - Poesia
Edição Editora Sol Nascente – 1992
Edição Editora Sol Nascente – 1992
Poeta e ficcionista, autor de uma biografia, três romances e quatro livros de poesia
publicados, ganhador de vários prêmios em contos, aos 72 anos de idade João Justiniano
mantém, inteira, a capacidade de sonhar.
Tem-se como poeta mais que romancista e contista. Sente-se um homem plenamente realizado.
Neste livro confirma-se como sonetista seguramente exercitado no manejo do verso métrico.
São, aqui, mais de duzentas produções, destacando-se duas coroas sobre sínteses
tomadas a outros poetas.
Texto do editor
Aquele Homem - Romance
Edição Editora Sol Nascente - 1993
Edição Editora Sol Nascente - 1993
Saindo um pouco do regionalismo no qual se situa com os três romances editados e até a
poesia (veja-se Brados do Sertao), Joao Justiniano da Fonseca agora nos traz AQUELE HOMEM,
romance urbano de cores fortes, pendente para o erótico. Nas suas indagnações de autor
voltado constantemente para a temática social, vai buscar o índio e o portugues no 1o de
Maio de 1500 quando ficaram no Brasil dois degredados e dois marujos fugidos da nau
cabralina. Partindo daí, chega a liberdade e a perversao sexual de hoje, passando
inevitavelmente, tao forte é a temática, pelos caminhos de Eros.
Texto do editor
Rodelas, Curraleiros,
Índios e Missionária - História
Edição Empresa Gráfica da Bahia com
apoio da Secretaria da Cultura e Turismo da Bahia 1996
UM EXEMPLO DE BOA HISTÓRIA
LOCAL
Quem examinar com atenção o mapa do estado da Bahia encontrará o nome de uma cidade na
margem direita do Rio São Francisco, no trecho em que serve de limite entre a Bahia e
Pernambuco. Naquele trecho o S. Francisco se alarga o suficiente para abraçar várias
pequenas ilhas. A cidade em questão tem o nome de Rodelas. Na outra margem do rio ficam
as localidades pernambucanas de Belém do S. Francisco e Itacuruba...
...O Livro de João Justiniano da Fonseca é exemplo de como do particular se pode partir
para o geral. Representa uma valiosa contribuição para a própria reconstrução da
história da Bahia, na medida em que reedifica uma se suas partes essenciais, que é a
extensão aos sertões da colonização iniciada no litoral e ali singularmente adaptada
em função dos fatores locais.
Jorge Calmom
Rio Grande do
Sul - Poesia
Edição Empresa Gráfica da Bahia com apoio da Secretaria da
Cultura e Turismo da Bahia 1997
O livro é uma ode ao nosso estado, onde inúmeras mulheres são decantadas. De nós,
sulistas, tu roubaste um pedacinho do coração. Cada uma de nós diferente da outra. Cada
uma de nós com seus pendores, seus signos, suas cores e predileções. Umas das mais
sensíveis, outras mais sensatas. Tem as apaixonadas, as cândidas, tem aquelas afoitas,
outras mais recatadas, enfim, vários tipos, e essas mulheres foram conquistadas pela tua
ternura, teu jeito de menino que fica translúcido na pele do homem bom, íntegro,
inteligente, e de uma lisura impecável.
Hugo Ramirez
Sertão, Luz e
Luzerna - Contos
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2000
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2000
Quando o Jornal da Bahia, nos tempos
de João Falcão, pontilhado na área de ficção a pena forra de Adionel Motta Maia,
criou, sob sua coordenação o concurso permanente de contos, eu já tinha dois romances
engavetados - Cacimba Seca e Terra Inundada, posteriormente editados. Nunca, entretanto,
havia tentado o conto. Tinha-o por um gênero difícil, conto é o soneto da ficção,
muitos podem produzi-lo, poucos o constroem razoável- mente.
Agora este livro arrumado. Entram os contos de sertão. O dos 14 versos hugonianos, de
Hugo Ramirez e poucos mais, as histórias iluminadas, inspiradas no extraordinário. É
bom que os livros de contos, como os de poesia, não sejam volumosos.
João Justiniano da Fonseca
Cantigas de Fuga ao Tédio - Poesia
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor -
2002
Este
livreto vem para marcar os meus oitenta e dois anos de sonhos e amor, de querer bem e, um
pouco mais, dizer que estou em plena forma, lúcido e sadio, produzindo e ainda
pesquisando. Os sonhos são os mesmos e estou contando com a boa vontade dos céus para
alcançar os noventa com a mesma capacidade de trabalho, com a mesma disposição.
Evidentemente sem o pique dos vinte e seis, antes, devagar e sempre.
A
cantiga é uma das mais belas manifestações da poesia em todos os tempos. "Canto
porque o instante existe/ e minha vida está completa. / não sou alegre nem sou triste, /
sou poeta", registra Cecília Meireles com uma simplicidade e uma ternura de
criança. A poesia é a paz espiritual, é alegria, é felicidade.
As
Trovas, sonetilhas e haicais deste livreto se acumularam no tempo, um hoje, outro amanhã.
Foram produzidas, as trovas, em regra para um encontro da UBT de Salvador, desde 1971,
algumas vezes para concursos, aos quais, por sinal, fui pouco freqüente. Os haicais
poucos, são um teste apenas. Nao fiz o hábito de seu cultivo. Em 1992, ao lançar Sonetos
de Amor e Passatempo, eu anotava: "Deixo os poemas, sonetilhos e cantigas para
outra oportunidade". Eis que chega a oportunidade das cantigas e dos sonetilhos.
Estes, por sinal, não deixam de ser uma modalidade de cantiga - duas quadras e dois
tercetos no ritmo redondilha maior, que é o da trova.
Só para
dizer do valor espiritual, do bem que nos faz a poesia, do amor, da dedicação que lhe
temos, os poetas, este bilhete do saudoso e querido Zélio Benevides, que me ensejou
recuperar a pequena produção que não arquivara:
"Salvador, 14/10/1980.
Justiniano, irmão trovador:
Tomei a deliberação de enviar-lhe uma cópia do seu soneto intitulado INÊS, feito quando se encontrava internado no hospital Português.
Quando me Sobrar um Tempinho, irei vê-lo para conversarmos um pouco e falarmos de literatura, sobretudo de poesia, romance, conto.
Justiniano, irmão trovador:
Tomei a deliberação de enviar-lhe uma cópia do seu soneto intitulado INÊS, feito quando se encontrava internado no hospital Português.
Quando me Sobrar um Tempinho, irei vê-lo para conversarmos um pouco e falarmos de literatura, sobretudo de poesia, romance, conto.
Zélio
Benevides."
João Justiniano da Fonseca
Memórias de
Pedro Malaca - Romance
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2003
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2003
DEDICATÓRIA
Esta é uma
história de gente e lixo, gente e bicho juntos no lixo - gente bicho. E eu desejo
dedicá-la aos que são gente, isto é, aos que tem poder e comando. Poder e Comando de
Estado, Poder e Comando de Dinheiro e Patrimônio, para que se precatem. A miséria está
demais e a cultura universal, milenar, ensina que um dia os miseráveis se levantam e
levam tudo, a tudo destroem na avalanche. Dá para sentir que a violência crescente no
mundo inteiro, salvo a político-religiosa do Oriente - e ainda esta, é um pouco isso -
tem muito de sua origem na fome e na miséria, que se espalham e se generalizam nas
cidades grandes. Já César dizia: "Dai pão e circo ao povo". Vou condenar
o deboche, para gritar aos modernos césares: Dai trabalho ao povo, que isto
representa o pão, dai-lhe terra para a lavoura no campo, para o barraco na
cidade, que
isto representa grão e abrigo.
isto representa grão e abrigo.
I - ONDE TUDO COMEÇA
Eu, Pedro Perpétuo
do Espírito Jovem, vulgo Pedro Malaca, aos nove dias do mês de outubro de
1992, nos setenta e dois anos de idade. Pedro, por vontade de minha avó,
homenagem ao seu ajudante de pedreiro que aos vinte e nove anos, por
disposição secreta do chaveiro do céu, comandando lá de cima as coisas de cá,
despencou do décimo andar do edifício onde trabalhava, sem seguro, sem
previdência, sem coisa nenhuma, deixando-a desamparada. Perpétuo do Espírito
Jovem, para gozo de minha mãe, que achava bonito o Perpétuo e sendo Espírito
Santo, no último momento refletiu que Santo é nome de negro e o seu filho, eu,
havia nascido quase branco, ou quase branco ela me supunha. Daí que mudou
para este incomum Espírito Jovem. Na idade em que me encontro, o nome passa a ser
simpático e até me inspira autoconfiança; na mocidade eu não dava importância
a isso, era o meu nome e me bastava. O Malaca vem da infância de rua e
me pegou a vida inteira, porque me agrada e eu o declino com satisfação.
Nasceu na molecagem, não está no registro. No dicionário também não está,
eu olhei, mas, na língua do povo, tem o mesmo sentido de peteleco, isto
é, dedada na orelha do menino quando o companheiro o surpreende descuidado. E,
se não dá briga na hora, deixa o certo desejo de cobrança: - tu me
pagas, cabra! No seu próximo descuido é a hora, malaca nele. Pois bem, porque
eu tenho as orelhas grandes - e isto é bom, uma vez que segundo o dito
popular representa longevidade -, o pessoal me pegava mais vezes. Acabei ficando
Pedro Malaca. Gosto do nome, tenho-o como um bom apelido. Essas coisas
de criança são assim, a gente lembra como se fossem de ontem. Parece que
me vejo, neste instante mesmo, no bonde misto do Retiro: gente, porco,
galinha, carga de toda diversidade, eu, mamãe, meus pequenos irmãos, nossas
trouxas de roupa. E onde está hoje o bonde misto, no qual o pobre tinha um
preço mais baixo e podia transportar os seus animais destinados a venda na
feira livre, e os seus badulaques? Adeus bonde misto, largas portas sempre
abertas, sem bancos, todo mundo em pé
agarrado nas alças lá em cima ou nas paredes, as crianças presas as pernas
mais próximas. Adeus bonde, que já não existes mais e bem podias estar servindo de transporte de massa, não poluente e a preço muito inferior ao dos maltratados ônibus que expelem óxido de carbono de uma ponta a outra da cidade e dão mais greve que circulação, sem contar que não há misto. Adeus trem da Leste Brasileiro, começando da Calçada aos subúrbios para continuar sertão adentro pelas caatingas até Juazeiro, estrada tantas vezes percorrida por mim na mocidade, máquina fotográfica a tiracolo, alguns livros debaixo do braço e muita paixão pela vida, muita vontade de ser e de viver.
Lá vai o trem pelos caminhos do agreste sertanejo, "roque-roque, foque-foque, - eu-chego-já, eu-chego-já, pode-esperá, eu-chego-já". Gente sentada, gente em pé, mais em pé do que sentada, adultos e crianças, homens e mulheres. Os homens fumam e conversam, conversam e fumam, cada qual falando mais alto para sobrepor a voz ao ruído das rodas nos trilhos, "roque- roque, foque-foque" e ao vozerio vizinho. A paisagem, um ambiente só, imutável, permanente: árvores secas, folhas no chão, aqui, ali, uma rês esquelética, mostrando os ossos por dentro do couro ressequido, adiante um esqueleto de animal, os urubus rondando, bicando o que ainda se preste ao seu apetite.
agarrado nas alças lá em cima ou nas paredes, as crianças presas as pernas
mais próximas. Adeus bonde, que já não existes mais e bem podias estar servindo de transporte de massa, não poluente e a preço muito inferior ao dos maltratados ônibus que expelem óxido de carbono de uma ponta a outra da cidade e dão mais greve que circulação, sem contar que não há misto. Adeus trem da Leste Brasileiro, começando da Calçada aos subúrbios para continuar sertão adentro pelas caatingas até Juazeiro, estrada tantas vezes percorrida por mim na mocidade, máquina fotográfica a tiracolo, alguns livros debaixo do braço e muita paixão pela vida, muita vontade de ser e de viver.
Lá vai o trem pelos caminhos do agreste sertanejo, "roque-roque, foque-foque, - eu-chego-já, eu-chego-já, pode-esperá, eu-chego-já". Gente sentada, gente em pé, mais em pé do que sentada, adultos e crianças, homens e mulheres. Os homens fumam e conversam, conversam e fumam, cada qual falando mais alto para sobrepor a voz ao ruído das rodas nos trilhos, "roque- roque, foque-foque" e ao vozerio vizinho. A paisagem, um ambiente só, imutável, permanente: árvores secas, folhas no chão, aqui, ali, uma rês esquelética, mostrando os ossos por dentro do couro ressequido, adiante um esqueleto de animal, os urubus rondando, bicando o que ainda se preste ao seu apetite.
O restaurante. Aqui, os de melhor situação, caixeiros viajantes (a maioria
são representantes de laboratórios, deve ser um negócio bom e rendoso, vender remédio,
cuja matéria prima por excelência é água destilada), empregados públicos,
fazendeiros, comerciantes. Também aqui os passageiros fumam. Muito. Mais até
que nas classes, e bebem cerveja. Intoxicam fartamente os pulmões, engolindo
poeira de chão e poeira de cigarro, benza-os Deus. Falam aos gritos e todos ao
mesmo tempo praticamente as mesmas coisas em todas as rodas: É a seca que mata
os animais e acaba com tudo, são os negócios parados, os comerciantes sem
dinheiro para saldar os compromissos, porque as pessoas falta dinheiro para comprar.
Não há o produto local a vender - o boi, o bode, o algodão, o feijão. Mais
se fala, mais se entristece; mais se entristece, mais se bebe; mais se bebe,
mais se fuma; mais se fuma mais se intoxica; mais se intoxica, mais encurta-se a vida. E o
trem sem parar: - "pode-esperá, eu-chego-já. Eu-chego-já, eu-chego-já". De
vez em quando o comboio vê, na sua corrida, e rápido deixa para trás, uma
família de retirantes. Trouxa na cabeça, uma criança no colo andam os mais
jovens, meninos quase arrastados pelo braço, gemendo e chorando, os velhos
capengando, a miséria estampada em cada rosto. São os que fogem da seca,
mudando-se sem saber para onde, pela frente sempre a mesma penúria. Dói-me a
paisagem, dói-me o estirão de miseráveis na estrada, dói-me a minha
própria solidão. Como que me vejo entre aquela gente, moído de miséria,
comendo lixo como foi algumas vezes no meu tempo de menino. Sem dúvida, em um
magote de desgraçados igual aqueles, teria descido o célebre Gaguinho de minha
mãe. Sem dúvida! Medito sobre uma reportagem enfocando a desgraça sertaneja e
vejo-a descrita em matérias anteriores. Seria uma repetição de outras
repetições, trabalhadas no correr de uma vida, para leitura de poucos e
desinteresse de quantos tem os meios de solucionar, ou ao menos, amenizar toda
aquela miséria secular. Procuro ler. O sacolejar do trem reduz a
capacidade de leitura. Ora as letras parece que pulam com o trem, ora a vista
se desloca mais para cima ou mais para
baixo, desisto da leitura. Não sou de muita conversa nem de muitos amigos, costumo viajar horas e horas silencioso e pensativo. Meu assunto se isola dos mais, sou o único profissional de imprensa. Cansado fecho os olhos, tento dormir. Não consigo. O pensamento corre como as rodas da viatura sobre os trilhos, só o compasso é diferente e eu não consigo ordená-lo. Canta um poema? Nem isso! Até então, não tinha inclinação para a poesia. Jamais arrumara dois versos. Conta uma história? Conta muitas histórias, mas sem ritmo, sem sentido, embaraçadas, recheadas de dúvidas e temores, de dores e tristezas. Era uma vez um menino que nasceu para ser pivete e uma alma santa o conduziu nos caminhos do bem, ensinou a viver como gente, enquanto milhares de outros lá ficaram para se fazerem bandidos ou mendigos... Era uma vez uma menina triste que viveu no lixão da Canabrava, de onde saiu por graça de um menino levado da breca, para ser lavadeira... Era uma vez uma pobre mulher sem profissão ou ocupação rendosa, que perdeu o marido num acidente de trabalho no qual era um simples avulso, anônimo, sem fichamento e até sem folha de salário, e assim, sem amparo legal... Era uma vez um amontoado de bichos e gente, urubus e cachorros vadios, jumentos velhos, crianças e anciões vivendo do lixo, uns morrendo hoje, outros esperando sua vez amanha ou depois, logo mais, uns chegando outros saindo, as centenas, depois aos milhares, já agora sempre chegando e não saindo ninguém, senão no Rabecão, para a vala do cemitério das Quintas, onde o chão os engolia sem nome... Era uma vez, era uma vez, era uma vez...
Enfim, na estação da Calçada, na cidade para o compromisso mais doloroso dos meus 72 anos de vida. Pegar um táxi rumo ao cemitério, correr, que o tempo se esgotava...
baixo, desisto da leitura. Não sou de muita conversa nem de muitos amigos, costumo viajar horas e horas silencioso e pensativo. Meu assunto se isola dos mais, sou o único profissional de imprensa. Cansado fecho os olhos, tento dormir. Não consigo. O pensamento corre como as rodas da viatura sobre os trilhos, só o compasso é diferente e eu não consigo ordená-lo. Canta um poema? Nem isso! Até então, não tinha inclinação para a poesia. Jamais arrumara dois versos. Conta uma história? Conta muitas histórias, mas sem ritmo, sem sentido, embaraçadas, recheadas de dúvidas e temores, de dores e tristezas. Era uma vez um menino que nasceu para ser pivete e uma alma santa o conduziu nos caminhos do bem, ensinou a viver como gente, enquanto milhares de outros lá ficaram para se fazerem bandidos ou mendigos... Era uma vez uma menina triste que viveu no lixão da Canabrava, de onde saiu por graça de um menino levado da breca, para ser lavadeira... Era uma vez uma pobre mulher sem profissão ou ocupação rendosa, que perdeu o marido num acidente de trabalho no qual era um simples avulso, anônimo, sem fichamento e até sem folha de salário, e assim, sem amparo legal... Era uma vez um amontoado de bichos e gente, urubus e cachorros vadios, jumentos velhos, crianças e anciões vivendo do lixo, uns morrendo hoje, outros esperando sua vez amanha ou depois, logo mais, uns chegando outros saindo, as centenas, depois aos milhares, já agora sempre chegando e não saindo ninguém, senão no Rabecão, para a vala do cemitério das Quintas, onde o chão os engolia sem nome... Era uma vez, era uma vez, era uma vez...
Enfim, na estação da Calçada, na cidade para o compromisso mais doloroso dos meus 72 anos de vida. Pegar um táxi rumo ao cemitério, correr, que o tempo se esgotava...
João Justiniano da Fonseca
Crônica dos Deuses - Romance
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2005
Um projeto antigo
De muitos anos, de moço, pensava em algum trabalho em cima do Antigo Testamento. A idéia
nasceu, lá um dia, em momento de leitura bíblica. Caí, por acaso, na história de
Jacó. Cheguei a Jacó e Labão, ao pastoreio, a Raquel e Lia. Despertei para o fato de
que Camões não foi, para o seu soneto célebre, ao fim do texto bíblico. E compus o
soneto
ASTÚCIA DE JACÓ
de quebra, em cada leito uma franzina escrava, assim viveu Jacó, e muito bem vivia, na casa de Labão, de quem pastoreava. Porque vivia bem e ainda melhor servia, seis anos mais ficou - e tempo lhe sobrava. O que era branco e preto, a Labão pertencia, sendo o malhado seu, e o resto que pintava. Mas, por astúcias tais, que ninguém entendia, os rebanhos malhava, e pintava, e malhava, até que branco e preto em pouco não nascia. Labão que tudo olhava e já o seu não via, os rebanhos contava, e contava, e contava... Era tudo malhado, a Jacó pertencia! |
O grilo permaneceu na mente e no correr do tempo produzi outros sonetos sobre a temática.
Quando li Saramago no seu Evangelho Segundo Jesus Cristo, aí ocorreu a idéia do romance.
Poderia passear pelo Antigo Testamento e ou pelo Novo. Percorri personagens, quis Pedro,
não encontrei muito ou a inspiração não me ajudou - Pedro continua ainda em minha
cabeça e não duvido que saia algum dia, sou um homem que acredita na eternidade e a
espera tranqüilamente - . Com Pedro viriam os discípulos, talvez Judas também - o
coitado em quem o destino pôs a pecha e a forca. Sim, o destino, um tinha de ser, foi
Judas o escalado.
Ocorreram-me os profetas e o melhor que se introduziu foi Moisés, eu o acolhi, ainda que badalado demais, usado e ré-usado. É assim mesmo, cada qual faça a sua parte. Aqui, Moisés fundamentalmente não é muito, preferi o conjunto e partindo do personagem central voltei a Abraão, passei por Jacó - o Israel homem, retornei a Moisés até chegar a Israel povo, ao Êxodo, sem deixar de rever Adão e Eva, a serpente, o fruto proibido. Acabei descobrindo que o fruto não foi a maça, mas a uva, a uva fermentada, feita no saboroso vinho, manso e embriagador. A embriaguez tudo pode.
Mas não esqueci nem poderia esquecer o Deus Criador produzindo a grande poesia que é o Seu mundo, aliás, que são os Seus mundos. Caim e Abel, Noé, entraram de quebra. Quase todo o mundo bíblico.
Ocorreram-me os profetas e o melhor que se introduziu foi Moisés, eu o acolhi, ainda que badalado demais, usado e ré-usado. É assim mesmo, cada qual faça a sua parte. Aqui, Moisés fundamentalmente não é muito, preferi o conjunto e partindo do personagem central voltei a Abraão, passei por Jacó - o Israel homem, retornei a Moisés até chegar a Israel povo, ao Êxodo, sem deixar de rever Adão e Eva, a serpente, o fruto proibido. Acabei descobrindo que o fruto não foi a maça, mas a uva, a uva fermentada, feita no saboroso vinho, manso e embriagador. A embriaguez tudo pode.
Mas não esqueci nem poderia esquecer o Deus Criador produzindo a grande poesia que é o Seu mundo, aliás, que são os Seus mundos. Caim e Abel, Noé, entraram de quebra. Quase todo o mundo bíblico.
João Justiniano da Fonseca
A Vida de Luiz
Viana Filho - Biografia
Edição Conselho Editorial do Senado Federal
- 2005
A PALAVRA DOS MESTRES
"Luiz Viana Filho é, por si, um título de glória para o nosso país", diz
Austregésilo de Athayde. E Josué Montello o chama de "o mais polido de seus
contemporâneos, o mais civilizado dos brasileiros. Íntegro. Superior. Obra-prima do bom
gosto de Deus". "Toda vez que o Brasil conjugar o estilo da lhaneza com o
sentido da grandeza, o alto vulto de Luiz Viana Filho sorrirá para nós, lá do Senado
das sombras", registra Guilherme Merquior .
I - O CONSELHEIRO LUIZ VIANA
O Conselheiro Luiz Viana destacou-se como político, chefe do Partido Liberal na Bahia, no
final do Segundo Império e nas duas primeiras décadas da República. Foi Conselheiro e
Presidente do Tribunal de Apelação e Revista, situação correspondente, hoje, a
desembargador, e Presidente do Tribunal de Justiça do Estado, professor da Faculdade de
Direito da Bahia, hoje integrada a UFBA, sendo um dos seus fundadores, Senador do Estado e
Presidente do Senado Estadual, Governador do Estado da Bahia, Senador Federal. Assumiu o
governo do estado a 28 de maio de 1896, deixando-o no final do mandato, em 28 de maio de
1900. No governo, fundou a Escola Politécnica, também integrada a UFBA, ampliou as
instalações da Escola Normal, criou condições para a ampliação das usinas de
açúcar - enato base da economia do estado -, determinou a construção de açudes nas
regiões mais castigadas pela seca de 1888/89. Antes de eleito governador, fora candidato
a Intendente da Cidade de Salvador, sendo vencido por José Eduardo Freire de Carvalho
Filho.
Filho do coronel José Manoel Viana, fazendeiro e comerciante na região, e dona Mariana Ribeiro Viana, nasceu em Casa Nova, antiga São José de Casa Nova, pequena cidade baiana do lado norte do Rio São Francisco, pouco acima de Juazeiro, de onde recebe o reflexo sociocultural e econômico desde os primórdios - no ano de 1846, no dia 30 de outubro. Faleceu a 6 de julho de 1920 a bordo do paquete holandês Limburgia, nas proximidades de Las Palmas, sendo o corpo embalsamado e transladado para Lisboa, depois Salvador, onde foi sepultado no dia 1° de agosto. Deixou o filho Luiz Viana Filho, do segundo casal, com dona Joana Gertrudes Fichtner Viana, enato aos 12 anos de idade e a quem dera o nome de Henrique Luiz Viana. Gabriel Viana apresenta-se como filho: "Ao nosso sempre lembrado pai saudades eternas de Gabriel e Amanda", registra a coroa de flores dedicada por estes ao falecido. Amanda era a esposa de Gabriel. Fica a dúvida. Luiz Rogério de Souza, amigo de Luiz Viana Filho, com quem convivera proximamente, dizia que ele tinha uns irmãos pretos (falava no plural). Gabriel é lembrado no testamento do Conselheiro, que declara que o criou e educou, deixando-lhe o valor de vinte contos de réis em apólices do Estado da Bahia. Ingressando no processo de inventário com um requerimento em que denuncia que a inventariante está desviando para outras propriedades gado seu, com a marca a fogo G, que criava em uma das fazendas do falecido, autorizado por ele, Gabriel alega que provará ser seu filho, por via de uma investigação de paternidade a que está procedendo. Até o fim do processo não apresentou essa prova nem a do reclamado desvio de gado, não participando, assim, do inventário. Pode ser que Gabriel fosse realmente seu filho.
Casa Nova, ao tempo do nascimento do Conselheiro, devia ser um pequeno povoado rural, ligado a Juazeiro, que, por sua vez se subordinava a Sento Sé, que seria também muito pouco. Tudo isso, esteve na zona de influencia do Sobradinho, do célebre Domingos Sertão, três séculos atrás. A atual cidade de Juazeiro, enato, chamava-se Passagem do Juazeiro.
José Manoel Viana faleceu a 7 de janeiro de 1911, tendo a alegria de ver o filho governador do estado. Era filho, José Manoel Viana, de um Senhor Viana, português, fundador de Casa Nova.
Tão pouco era Sento Sé em 1846, que tendo sido criada aí uma comarca em 1835, vinte e dois anos depois, em 1857 (tinha onze anos o Conselheiro Luís Viana), foi a mesma transferida para a povoação de Juazeiro, que alcançou maior desenvolvimento.
Com efeito, uma lei de 21 de maio de 1835 cria a "Comarca de Sento Sé, compreendendo as vilas de Juazeiro e Pambu, desmembrada de Jacobina". Outra, de 14 de dezembro de 1857, define: a Comarca "de Sento Sé que se chamará Juazeiro, constará de três termos - Capim Grosso, Juazeiro e Sento Sé". Aqui aparece mudado o nome de vila de Pambu para Capim Grosso, atual Curaçá, porque também esse termo já mudara de endereço, isto é, desenvolvendo-se Capim Grosso mais do que Pambu, fora transferida a categoria de vila, de um lugar para o outro, indo, na transferencia também o Julgado - ou Termo Judiciário, em decorrência da lei de 6 de junho de 1853 (2).
Filho do coronel José Manoel Viana, fazendeiro e comerciante na região, e dona Mariana Ribeiro Viana, nasceu em Casa Nova, antiga São José de Casa Nova, pequena cidade baiana do lado norte do Rio São Francisco, pouco acima de Juazeiro, de onde recebe o reflexo sociocultural e econômico desde os primórdios - no ano de 1846, no dia 30 de outubro. Faleceu a 6 de julho de 1920 a bordo do paquete holandês Limburgia, nas proximidades de Las Palmas, sendo o corpo embalsamado e transladado para Lisboa, depois Salvador, onde foi sepultado no dia 1° de agosto. Deixou o filho Luiz Viana Filho, do segundo casal, com dona Joana Gertrudes Fichtner Viana, enato aos 12 anos de idade e a quem dera o nome de Henrique Luiz Viana. Gabriel Viana apresenta-se como filho: "Ao nosso sempre lembrado pai saudades eternas de Gabriel e Amanda", registra a coroa de flores dedicada por estes ao falecido. Amanda era a esposa de Gabriel. Fica a dúvida. Luiz Rogério de Souza, amigo de Luiz Viana Filho, com quem convivera proximamente, dizia que ele tinha uns irmãos pretos (falava no plural). Gabriel é lembrado no testamento do Conselheiro, que declara que o criou e educou, deixando-lhe o valor de vinte contos de réis em apólices do Estado da Bahia. Ingressando no processo de inventário com um requerimento em que denuncia que a inventariante está desviando para outras propriedades gado seu, com a marca a fogo G, que criava em uma das fazendas do falecido, autorizado por ele, Gabriel alega que provará ser seu filho, por via de uma investigação de paternidade a que está procedendo. Até o fim do processo não apresentou essa prova nem a do reclamado desvio de gado, não participando, assim, do inventário. Pode ser que Gabriel fosse realmente seu filho.
Casa Nova, ao tempo do nascimento do Conselheiro, devia ser um pequeno povoado rural, ligado a Juazeiro, que, por sua vez se subordinava a Sento Sé, que seria também muito pouco. Tudo isso, esteve na zona de influencia do Sobradinho, do célebre Domingos Sertão, três séculos atrás. A atual cidade de Juazeiro, enato, chamava-se Passagem do Juazeiro.
José Manoel Viana faleceu a 7 de janeiro de 1911, tendo a alegria de ver o filho governador do estado. Era filho, José Manoel Viana, de um Senhor Viana, português, fundador de Casa Nova.
Tão pouco era Sento Sé em 1846, que tendo sido criada aí uma comarca em 1835, vinte e dois anos depois, em 1857 (tinha onze anos o Conselheiro Luís Viana), foi a mesma transferida para a povoação de Juazeiro, que alcançou maior desenvolvimento.
Com efeito, uma lei de 21 de maio de 1835 cria a "Comarca de Sento Sé, compreendendo as vilas de Juazeiro e Pambu, desmembrada de Jacobina". Outra, de 14 de dezembro de 1857, define: a Comarca "de Sento Sé que se chamará Juazeiro, constará de três termos - Capim Grosso, Juazeiro e Sento Sé". Aqui aparece mudado o nome de vila de Pambu para Capim Grosso, atual Curaçá, porque também esse termo já mudara de endereço, isto é, desenvolvendo-se Capim Grosso mais do que Pambu, fora transferida a categoria de vila, de um lugar para o outro, indo, na transferencia também o Julgado - ou Termo Judiciário, em decorrência da lei de 6 de junho de 1853 (2).
II - INFÂNCIA, ADOLESCENCIA, PRIMEIRA
MOCIDADE
Iniciava-se a primavera em Paris e "a cidade cinzenta já começava a trocar de
roupa", diria Luiz Navarro de Brito, isto é, começava a enflorar-se, e os pintores
certamente trabalhavam suas telas na via pública, como era costume; as luzes noturnas
brilhavam, os teatros enchiam-se. Paris seria uma cidade de 2.500.000 habitantes, não
mais. Era o dia 28 de março do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1908. Nascia o filho
único do Conselheiro Luiz Viana e da senhora Joana Gertrudes Fichtner Viana, que
receberia o nome de Henrique Luiz Viana. Aos dois anos de idade tomava porto na Bahia, o
"doce ninho murmuroso" de Rui Barbosa, o chão do Barão de Cotegipe e do
Visconde do Rio Branco, que seria a sua verdadeira terra, aquela onde viveria a infância
e a adolescência, a mocidade, a vida inteira, onde se encaminharia para o futuro, onde
brilharia e seria acatado e respeitado como cidadão e político, como intelectual,
ampliando, a partir daí, o seu círculo de amizades e afeto, de respeito e admiração
para todos os rincões da pátria. O pai, líder político, depois de exercer a
governança do estado não se candidatou a nenhum outro cargo e, assim, teve uma fase de
ostracismo. Sendo um homem de posses e boas rendas, viveu essa temporada em Paris, onde
conheceu dona Joana. Nascido o herdeiro pelo qual sem dúvida ansiava, tratou de retornar
a terra natal e retomar a atividade política e o comando partidário. Elegeu-se senador
da república. Como senador, em um tempo em que não havia o avião do vai-e-vem, residiu
no Rio e aí levou o filho a escola. Como informa Navarro de Brito, esteve, este,
inicialmente em uma escola pública em Botafogo, passando a seguir para o Colégio
Anchieta e mais tarde para o Aldridge, depois para o Externato Burlamarque de Moura como
aluno interno. Após o falecimento do pai, no Rio ele continuaria ainda por algum tempo,
interno no Burlamarque Moura, enquanto a mãe se fixava na Bahia certamente pela
conveniência de administrar os bens deixados pelo falecido esposo e cuidar do
inventário. Veio logo mais para Salvador onde realizou, no Colégio da Bahia, os exames
indispensáveis a matrícula no vestibular, que iniciara no Pedro II, Rio de Janeiro. Nos
exames realizados no Pedro II, ele se destacaria com distinção, nota 10 em História do
Brasil, História Universal, Corografia e Geografia.
Nascido em Paris, distrito de Louvre e Oiase, Henrique Luiz Viana, foi registrado no Cartório da Jurisdição Civil local. Só em 1926 teria o seu registro baiano, que se deu no Cartório da Sé. Era, não o registro de nascimento, que não poderia ser feito no Brasil existindo um outro, anterior, em França, mas o registro de emancipação, já aí com o nome de Luiz Viana Filho.
Dá-se que, ao completar 18 anos de idade, acadêmico de direito cursando o segundo ano e exercendo, havia dois anos, a profissão de jornalista, sentindo-se apto para todos os atos da vida civil, requer, tendo como procurador Aliomar Baleeiro, a emancipação, para que possa administrar seus próprios bens, até enato gerenciados por sua mãe. O juiz requerido acolhe o pleito e manda que se proceda ao registro. Aí se declara que Luiz Viana Filho não tem registro de nascimento em nenhum Cartório de Salvador. A anotação se encontra no livro 17, as folhas 19, do Cartório da Sé: "Aos dois dias do mês de junho de mil novecentos e vinte e seis neste Distrito da Sé em meu Cartório, compareceu o Doutor Aliomar Baleeiro, advogado, natural deste Estado, residente a rua Areal de Baixo, número quinze, como representante do acadêmico de direito Luiz Viana Filho, exibindo uma certidão de sentença passada pelo Exmo. Sr Dr. Juiz de Direito da Vara de Órfãos e Ausentes, para ser registrada na forma do artigo 12 de referencia art. 09, n° 01 ambos do Código Civil Brasileiro, cujo teor é o seguinte: Sentença. Vistos etc. Verificando que o Sr. Luiz Viana Filho tem idade completa de dezoito anos e possui capacidade necessária para reger a sua pessoa e bens, declaro-o emancipado e apto para todos os atos da vida civil, sendo-lhe entregues os bens e movimentos, pagar as custas. Sejam estes autos apensos aos do inventário do Conselheiro Luiz Viana, seis de maio de mil novecentos e vinte e seis, assinado João Gonçalves Moniz. Nada mais se contém nem declaro no teor da sentença que bem afirmados a qual me reporto e dou fé. Esta certidão vai por mim escrevente juramentado escrita e pelo escrivão Carlos da Rocha Reis rubricada, subscrita e por outro escrivão conferida e acertada nesta Cidade do Salvador Capital do Estado da Bahia aos dois de junho de mil novecentos e vinte e seis. Eu Francisco Xaves Nunes da Silva, escrevente juramentado a escrevi. Eu Carlos da Rocha Reis escrivão a subscrevi e assino. Carlos da Rocha Reis. E para constar faço este termo tendo o representante mencionado Aliomar Baleeiro declarado mais que fazia este registro no Cartório da Sé desta Capital por ser a sede da Cidade e o Sr. Luiz Viana Filho nascido na França, na cidade de Paris não tem registro de nascimento em nenhum Cartório de Oficial de Registro Civil desta cidade, que depois de lido por mim e achado conforme vai pelo seu representante assinado. Eu Joaquim Pinto dos Santos escrevo e assino. Joaquim Pinto dos Santos, Aliomar Baleeiro, Luiz Viana Filho. Anotação aos dezenove dias do mês de abril de mil novecentos e cinqüenta, neste Subdistrito da Sé em meu Cartório presente o mandado expedido pelo Dr. Almiro dos Reis Meireles Pretor, na Jurisdição Plena da 2a Civil faço a presente anotação a margem do termo do registro de emancipação do Dr. Luiz Viana Filho para que fique constando como parte integrante do mesmo termo, que o emancipado nasceu no dia vinte e oito de março de mil novecentos e oito. E para constar faço este termo. Eu Maria da Glória Martins Bonfim, escrivã escrevi e dou fé. Maria das Graças Martins Bonfim". Não obstante a determinação de que os autos fossem juntos aos do inventário do conselheiro Luiz Viana, a anexação não se deu.
No ano anterior, antes de inscrever-se no exame vestibular a Faculdade de Direito, havia feito a alteração do nome, publicando-a no "Diário Oficial do Estado" de 28 de março, data em que completava 17 anos. Eis:
"Declaração. Henrique Luiz Viana, filho do Conselheiro Luiz Viana, declara para todos os efeitos que desta data em diante passa a assinar-se Luiz Viana Filho. Bahia, 24 de março de 1925" (assinado Luiz Viana Filho) (1).
A alteração nominal, era alguma coisa como uma confirmação. Com efeito. Henrique Luiz Viana vinha a significar Henrique, filho de Luiz Viana. Ele preferiu, com muita razão e bom senso, Luiz Viana Filho. Fixava-se aí o nome da pessoa humana simples e bondosa, do cavalheiro de trato ameno e nobre; do intelectual brilhante, membro da Academia de Letras da Bahia, da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Ciências e Letras de Lisboa, da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, príncipe dos biógrafos brasileiros; do político que se destacaria como governador de seu estado, ministro, deputado federal, senador da república, presidente do Congresso Nacional.
Feita a alteração do nome, agora é a preocupação do jovem, muito natural, com a nacionalidade brasileira. Filho de pai brasileiro magistrado, professor e político que exercera o cargo de governador do Estado, tendo nascido em país estrangeiro, mas aportado na Bahia aos dois anos de idade para ficar em definitivo - brasileiro, baiano se sentia e desejava ser, não francês, e o seria da mais alta representatividade, e com grandes serviços prestados no correr de toda a vida. Prova daquele desejo é que ao requerer matrícula na faculdade de direito, como brasileiro se qualifica:
"Luiz Viana Filho, brasileiro com 17 anos de idade, solteiro, filho de Luiz Viana, tendo sido habilitado no exame vestibular prestado nesta Faculdade e querendo matricular-se no 1° ano, vem pedir a V. S. que se digne mandar incluí-lo na lista dos matriculados do referido ano".
Na primeira página do prontuário do Professor Luiz Viana Filho, lá está a confirmação de sua assumida nacionalidade brasileira: "Nascido em 28 de março de 1908 em Paris (Brasileiro)"(1). Ele era a Bahia, diria Nelson Carneiro, 65 anos depois, enquanto velava seu corpo no Palácio da Aclamação. De fato. São muitas as oportunidades em que defende com entusiasmo e dedicação a Bahia, luta por ela e suas causas. São muitos os momentos em que, com amor e carinho se manifesta sobre sua terra. Veja-se esta sua transcrição (A Tarde - 23/12/43): "Realmente, como se os bons fados se esmerassem em preparar para a Bahia os filhos que lhe valeriam o epíteto de Virgínia Brasileira, é curioso observar a prodigalidade com que demos ao país nomes e vultos dos mais eminentes, quer na política, quer nas letras. Aqui nasceriam os dois Ferreira França e os dois Rebouças. E, da fase da Independência, são os nomes de Abrantes, Montezuma, e Jequitinhonha. Depois, seguem-se Rio Branco, Nabuco de Araújo, Cotegipe, Saraiva, Dantas, Ferraz, Junqueira e Zacarias. E cada qual seria bastante, por si só, para marcar, com um clarão de inteligência, de talento e de capacidade a sua época. Por isso mesmo o Império é a fase dos estadistas baianos. E não convém esquecer que é o período mais brilhante da nossa História. Contudo, não é apenas na política que se assinala essa grande geração de baianos - nas letras, é daqui que sai Castro Alves". Também ele honraria a sua Bahia, quer na política, quer nas letras. E buscava os momentos mais solenes de sua vida para manifestar-lhe seu amor e declarar seu orgulho de ser baiano: "... para me estimular e ajudar, sempre contei com aquela que jamais falta aos seus filhos, nos esforços da inteligência - a Bahia. A Bahia, fonte de toda a minha inspiração", diria, vibrando, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras.
Desembarcado em Salvador aos dois anos de idade, só voltaria a terra de nascimento aos 49 anos. Era o ano de 1957. Foi a uma conferencia interparlamentar em Nice, quando aproveitou para conhecer Paris, onde seu filho Luiz Viana Neto fazia o doutorado em Direito Internacional; é este que oferece a informação.
Nascido em Paris, distrito de Louvre e Oiase, Henrique Luiz Viana, foi registrado no Cartório da Jurisdição Civil local. Só em 1926 teria o seu registro baiano, que se deu no Cartório da Sé. Era, não o registro de nascimento, que não poderia ser feito no Brasil existindo um outro, anterior, em França, mas o registro de emancipação, já aí com o nome de Luiz Viana Filho.
Dá-se que, ao completar 18 anos de idade, acadêmico de direito cursando o segundo ano e exercendo, havia dois anos, a profissão de jornalista, sentindo-se apto para todos os atos da vida civil, requer, tendo como procurador Aliomar Baleeiro, a emancipação, para que possa administrar seus próprios bens, até enato gerenciados por sua mãe. O juiz requerido acolhe o pleito e manda que se proceda ao registro. Aí se declara que Luiz Viana Filho não tem registro de nascimento em nenhum Cartório de Salvador. A anotação se encontra no livro 17, as folhas 19, do Cartório da Sé: "Aos dois dias do mês de junho de mil novecentos e vinte e seis neste Distrito da Sé em meu Cartório, compareceu o Doutor Aliomar Baleeiro, advogado, natural deste Estado, residente a rua Areal de Baixo, número quinze, como representante do acadêmico de direito Luiz Viana Filho, exibindo uma certidão de sentença passada pelo Exmo. Sr Dr. Juiz de Direito da Vara de Órfãos e Ausentes, para ser registrada na forma do artigo 12 de referencia art. 09, n° 01 ambos do Código Civil Brasileiro, cujo teor é o seguinte: Sentença. Vistos etc. Verificando que o Sr. Luiz Viana Filho tem idade completa de dezoito anos e possui capacidade necessária para reger a sua pessoa e bens, declaro-o emancipado e apto para todos os atos da vida civil, sendo-lhe entregues os bens e movimentos, pagar as custas. Sejam estes autos apensos aos do inventário do Conselheiro Luiz Viana, seis de maio de mil novecentos e vinte e seis, assinado João Gonçalves Moniz. Nada mais se contém nem declaro no teor da sentença que bem afirmados a qual me reporto e dou fé. Esta certidão vai por mim escrevente juramentado escrita e pelo escrivão Carlos da Rocha Reis rubricada, subscrita e por outro escrivão conferida e acertada nesta Cidade do Salvador Capital do Estado da Bahia aos dois de junho de mil novecentos e vinte e seis. Eu Francisco Xaves Nunes da Silva, escrevente juramentado a escrevi. Eu Carlos da Rocha Reis escrivão a subscrevi e assino. Carlos da Rocha Reis. E para constar faço este termo tendo o representante mencionado Aliomar Baleeiro declarado mais que fazia este registro no Cartório da Sé desta Capital por ser a sede da Cidade e o Sr. Luiz Viana Filho nascido na França, na cidade de Paris não tem registro de nascimento em nenhum Cartório de Oficial de Registro Civil desta cidade, que depois de lido por mim e achado conforme vai pelo seu representante assinado. Eu Joaquim Pinto dos Santos escrevo e assino. Joaquim Pinto dos Santos, Aliomar Baleeiro, Luiz Viana Filho. Anotação aos dezenove dias do mês de abril de mil novecentos e cinqüenta, neste Subdistrito da Sé em meu Cartório presente o mandado expedido pelo Dr. Almiro dos Reis Meireles Pretor, na Jurisdição Plena da 2a Civil faço a presente anotação a margem do termo do registro de emancipação do Dr. Luiz Viana Filho para que fique constando como parte integrante do mesmo termo, que o emancipado nasceu no dia vinte e oito de março de mil novecentos e oito. E para constar faço este termo. Eu Maria da Glória Martins Bonfim, escrivã escrevi e dou fé. Maria das Graças Martins Bonfim". Não obstante a determinação de que os autos fossem juntos aos do inventário do conselheiro Luiz Viana, a anexação não se deu.
No ano anterior, antes de inscrever-se no exame vestibular a Faculdade de Direito, havia feito a alteração do nome, publicando-a no "Diário Oficial do Estado" de 28 de março, data em que completava 17 anos. Eis:
"Declaração. Henrique Luiz Viana, filho do Conselheiro Luiz Viana, declara para todos os efeitos que desta data em diante passa a assinar-se Luiz Viana Filho. Bahia, 24 de março de 1925" (assinado Luiz Viana Filho) (1).
A alteração nominal, era alguma coisa como uma confirmação. Com efeito. Henrique Luiz Viana vinha a significar Henrique, filho de Luiz Viana. Ele preferiu, com muita razão e bom senso, Luiz Viana Filho. Fixava-se aí o nome da pessoa humana simples e bondosa, do cavalheiro de trato ameno e nobre; do intelectual brilhante, membro da Academia de Letras da Bahia, da Academia Brasileira de Letras, da Academia de Ciências e Letras de Lisboa, da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, príncipe dos biógrafos brasileiros; do político que se destacaria como governador de seu estado, ministro, deputado federal, senador da república, presidente do Congresso Nacional.
Feita a alteração do nome, agora é a preocupação do jovem, muito natural, com a nacionalidade brasileira. Filho de pai brasileiro magistrado, professor e político que exercera o cargo de governador do Estado, tendo nascido em país estrangeiro, mas aportado na Bahia aos dois anos de idade para ficar em definitivo - brasileiro, baiano se sentia e desejava ser, não francês, e o seria da mais alta representatividade, e com grandes serviços prestados no correr de toda a vida. Prova daquele desejo é que ao requerer matrícula na faculdade de direito, como brasileiro se qualifica:
"Luiz Viana Filho, brasileiro com 17 anos de idade, solteiro, filho de Luiz Viana, tendo sido habilitado no exame vestibular prestado nesta Faculdade e querendo matricular-se no 1° ano, vem pedir a V. S. que se digne mandar incluí-lo na lista dos matriculados do referido ano".
Na primeira página do prontuário do Professor Luiz Viana Filho, lá está a confirmação de sua assumida nacionalidade brasileira: "Nascido em 28 de março de 1908 em Paris (Brasileiro)"(1). Ele era a Bahia, diria Nelson Carneiro, 65 anos depois, enquanto velava seu corpo no Palácio da Aclamação. De fato. São muitas as oportunidades em que defende com entusiasmo e dedicação a Bahia, luta por ela e suas causas. São muitos os momentos em que, com amor e carinho se manifesta sobre sua terra. Veja-se esta sua transcrição (A Tarde - 23/12/43): "Realmente, como se os bons fados se esmerassem em preparar para a Bahia os filhos que lhe valeriam o epíteto de Virgínia Brasileira, é curioso observar a prodigalidade com que demos ao país nomes e vultos dos mais eminentes, quer na política, quer nas letras. Aqui nasceriam os dois Ferreira França e os dois Rebouças. E, da fase da Independência, são os nomes de Abrantes, Montezuma, e Jequitinhonha. Depois, seguem-se Rio Branco, Nabuco de Araújo, Cotegipe, Saraiva, Dantas, Ferraz, Junqueira e Zacarias. E cada qual seria bastante, por si só, para marcar, com um clarão de inteligência, de talento e de capacidade a sua época. Por isso mesmo o Império é a fase dos estadistas baianos. E não convém esquecer que é o período mais brilhante da nossa História. Contudo, não é apenas na política que se assinala essa grande geração de baianos - nas letras, é daqui que sai Castro Alves". Também ele honraria a sua Bahia, quer na política, quer nas letras. E buscava os momentos mais solenes de sua vida para manifestar-lhe seu amor e declarar seu orgulho de ser baiano: "... para me estimular e ajudar, sempre contei com aquela que jamais falta aos seus filhos, nos esforços da inteligência - a Bahia. A Bahia, fonte de toda a minha inspiração", diria, vibrando, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras.
Desembarcado em Salvador aos dois anos de idade, só voltaria a terra de nascimento aos 49 anos. Era o ano de 1957. Foi a uma conferencia interparlamentar em Nice, quando aproveitou para conhecer Paris, onde seu filho Luiz Viana Neto fazia o doutorado em Direito Internacional; é este que oferece a informação.
João Justiniano da Fonseca
Outras Obras (em construção)
Luiz Viana
Filho – O Jornalista - Antologia
Conselho Editorial do Senado Federal -
2008
Memorial Dulcina
Cruz Lima - História
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2008
A Colonização
e o Massacre -Romance Histórico
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor -
2009
No Correr do
Tempo - Memórias
Edição Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2011
Dulcina Cruz
Lima - Correspondência - Coletânea de Cartas e Outros Escritos
Edição
Empresa Gráfica da Bahia/Autor - 2013
Participação
em inúmeras coletâneas impressas de poesias e contos
JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA-ACADÊMICO
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Homenagem-acróstica Nº 5549
por Silvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
-
-J-João Justiniano da Fonseca, na Bahia,
-O-O autor-solo de várias Obras Imortais:
-Ã-[Aquele Homem] de [Rodelas-Curraleiros];
-O-O Poeta-Político entre ícones brasileiros;
-
-J-Jamais será esquecido pelos [Brados do Sertão];
-U-Um exímio Contista do [Sertão, Luz e Luzerna]
-S-Sonetista em [Sonetos de Amor e Passatempo];;
-T-[Terra inundada] e [Grilagem] em romances;
-I-[Índios e Missionários] com história da colonização
-N-Na região das corredeiras do Rio São Francisco;
-I-Importante romance [memórias de Pedro Malaca];
-A-Autor do romance [Cacimba Seca]. Em Rodelas/BA,
-N-Nascido 30-06-1920, filho de Eufrosina e Manoel.
-O-O resumo biográfico e sonetilhos ao [Luis Rogério
-
-D-De Sousa-O Educador Emérito] orgulho da Bahia;
-A-A expressão lírica-poética em lindas [Cantigas de
-
-F-Fuga ao Tédio]; [Sonhos de João]; [Safiras e
-O-Outros Poemas]; Editor da Revista POEBRAS/Salvador/2002;
-N-Na poesia vária apresenta o [RIO GRANDE DO
-S-SUL; Membro de várias Instituições Culturais:
-E-É Verbete no Dicionário de Poetas Contemporâneos/1991 e
-C-Consta na Enciclopédia de Literatura Brasileira/1990/2001;
-A-Acadêmico na Academia Rio-Grandense de Letras;
-
-A-Academia Petropolitana de Letras e de Raul de Leoni;
-C-Casa do poeta Rio-Grandense; excelente Trovador,
-A-Atuante União Brasileira de Trovadores/UBT-Salvador;Casa
-D-Do Poeta Brasileiro; membro do IHG/BA: um Historiador;
-Ê-Esteve no Exército Brasileiro entre 1940/1944; foi Sargento;
-M-Membro aposentado do Serviço Público; VEREADOR;
-I-Inesquecível PREFEITO de sua terra natal de 1967/1971.
-C-Com carinho, é sempre o homenageado eleito, por todos:
-O-O Amigo-ELO ESCRITOR LITERÁRIO de Salvador.PARABÉNS!
-
Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 27 de julho de 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/4898891
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http://www.recantodasletras.com.br/biografias/4537502
-
Email:clubedalinguaport@gmail.com
5541-ELOS ESCRITORES LITERÁRIOS
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Acróstico nº 5.541
Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil
E-ELOS Escritores LITERÁRIOS Imortais, magistrais,
L-Ligados às correntes relevantes INTERNACIONAIS,
O-Organizações Mundiais, que anunciam a PAZ
S-São fortes, Humanistas, na real História que traz
E-Excelência na Arbitragem dos Direitos existentes,
S-Seleiros recheados de opiniões, reações e posturas
C-Críticoevolutivas, além da tessitura da criatividade,
R-Ressonância majestática-univérsica de ações futuras
I-Impregnadas, nas lições de grandeza na igualdade,
T-Textos em artigos, livros, teses, belas conferências,
O-Orientadas com tendências, apenas normativas
R-Recebem as incumbências do {Fazer CONCRETO}
E-Experimentações do Pensamento Psicopedagógico,
S-Seguindo os Estágios Psicomaturacionais sem os
L-Limites das inúmeras possibilidades educacionais,
I-Interação de VALORES humanos, políticos, sociais,
T-Transpondo os diversos segmentos em outras Nações,
E-Externando sonhos e planos, visando suas realizações,
R-Relações Diplomáticas entre brasileiros e estrangeiros,
Á-Atuando juntos, mostrando soluções em prosa ou verso,
I-Reverenciando a organização cultural e socioliterária
O-O êxito para alcançar a PAZ e a JUSTIÇA necessárias,
S-Sobremaneira, proativas unidas à erudição literocientífica.
Salvador, Bahia, Brasil, 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/acrosticos/4887055
Porque tão pouco conhecido?... Sou gaúcho, conheci seu livro, a colonização e o massacre. Ótimo livro. Ele morreu em 2016, procurei vídeos youtube, quase não há. Porque tão desmerecimento a este grande escritor...lamento por mim, por não o conhece lo antes, lamento que nosso país leia tão pouco. Acredito que deveriam divulgar mais a obra deste grande escritor. Pesquisava um livro sobre nossos índios e a questão da colonização brasileira...apesar de o livro que li não fazer alusão a referências, conforme Abnt, é um grande livro de história.
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